Era uma vez um mendigo que vivia nas ruas, que tinha como fortuna um lápis e umas quantas folhas. Este mendigo era pessoa muito rica e tinha um talento especial. Ele conseguia reunir com esse talento, desenhar, todo as “riquezas” do Mundo nos seus retratos.
As esmolas que recebia na rua eram suficientes para suscentar o seu feliz modo de vida socialmente peregrino. A princípio o seu talento não era bem visto pelos primeiros clientes aos quais desenhava seus retratos, pois estes não tinham muita cor e retratavam sempre algo que não lhes fazia reflexo apesar da qualidade técnica do traço. Inclusivamente muitos clientes chegaram a ser primeiros e últimos dado o descaramento impessoal da descrição realizada. A convicção desses primeiros clientes era que naquela folha não se projectava fielmente a imagem pela qual se sentiam reconhecidos, enquanto o mendigo na riqueza da sua pobreza de afectação dessa imagem subtilmente os despia nos seus retratos empobrecendo-lhes a imagem. Mas esse mendigo não se importava com a reacção de seus clientes pois esse era o seu dom e contando que pelo menos lhe pagassem o mínimo devido pelo investimento de seu traço nessa folha a vida continuaria para ele mesmo que a partir desse momento algo desviado fosse reflectido do seu cliente. No fundo, com o dom, nada mais espelhava que a nudez das suas insignificâncias desafectadas de pretensas projecções, que realmente não lhe rendia a continuidade de alguns clientes, o que não era muito crítico pois continuava a lucrar da sua natureza nómada. Assim continuava este nómada pelas variadas cidades do Mundo com o seu consultório ambulante, apenas com as folhas onde registava todas as faces coloridas da Humanidade através dessa maldita pena de Atenas que os despojava das sua virtudes.
Foram três décadas de feliz peregrinação pelo Mundo que valeram finalmente o reconhecimento de seu talento que traduzido de outra forma lhe deram riqueza. A partir desta “feliz” conversão deixou de ser nómada e inconscientemente tornou-se prisioneiro nas mesmas muralhas de seus clientes, fruto dessa imagem impaciente do número, efectuando agora diagnósticos imginativos e mais lucrativos dos clientes.
Daí em diante ele se tornára num deles pois no Mundo não havia outro com o mesmo dom que lhe reflectisse a partir desse momento a pobreza da sua nova riqueza.
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